Primeira Aula

Às 8h40 comecei a minha primeira oficina de percussão para os usuários do Centro de Convivência Venda Nova. Os usuários estavam me esperando com muita expectativa, confesso que eu também estava ansioso para saber como seria a reação deles e entender a concepção da oficina, o método utilizado, a forma como enxergavam e percebiam a música…

            Dei início com o trabalho de corpo fazendo com que eles se expressassem de forma livre e espontânea, procurando promover a interação do grupo e perceber o desempenho criativo com seus corpos, tentando fazer com que cada indivíduo tomasse consciência do seu ritmo corporal. Dessa forma, a partir dali eu daria sequência a uma longa pesquisa de ritmo e sonoridades; em poucos minutos de oficina percebi que estavam todos envolvidos, não houve nenhuma resistência ou censura, foi uma profunda aceitação e entrega. Realizaram as dinâmicas com vontade, bastante humor e tranquilidade, foi uma experiência super bacana e satisfatória. As experiências musicais foram evoluindo.

         Passei para o segundo módulo do cronograma quando percebi que todos estavam integrados e haviam relaxado. Comecei a trabalhar com a percepção auditiva e a concentração, peguei um aparelho de som e pus uma fita cassete de um percussionista paraibano, Fernando Falcão. O disco chama-se “Memória das Águas”, e realizei uma dinâmica de compreensão auditiva e rítmica. Os usuários teriam que observar um determinado trecho de uma música e perceber quantas palmas existiam naquela parte, teriam que acompanhar repetindo do mesmo jeito aquela linha rítmica contida na música. Alguns perceberam, logo depois quase todo grupo estava tocando junto, acompanhando a música que tocava e harmonizava a todos. Esse exercício foi maravilhoso e divertido, com todos sorrindo e envolvidos com aquela música que eles desconheciam; em seguida, realizei alguns exercícios corporais e dinâmicas de voz. Percebia que todos estavam menos tensos e mais confiantes e já me olhavam com menos temores, seus olhos refletiam isso.

            Posteriormente, passei para outro momento, confesso que eu tinha muita expectativa nessa parte que era a utilização dos instrumentos musicais. Os usuários estavam eufóricos com a perspectiva de tocarem instrumentos, creio que ninguém ali presente tinha intimidade com instrumentos musicais. Dei para cada um instrumento de percussão e uma célula rítmica e eles foram se envolvendo com a energia do ritmo, desenvolviam o ritmo não tão claro, porém, percebia que alguns se destacavam e tinham habilidades, enquanto outros demostravam algumas dificuldades. No entanto, procuravam com esforço ter um melhor desempenho com graça e concentração. Depois que o grupo estava bastante integrado, realizei outra dinâmica mais provocativa. Eles saíram pelo Centro de Convivência tocando tudo que encontrassem pela frente e utilizando sons vocais na medida que executassem qualquer som, foi muito divertido e caótico: puxavam cadeiras, batucavam nas paredes de madeiras, gritavam, percutiam com os pés no chão, batiam palmas, assobiavam, tiravam sons em jornais, mesa, copos de plásticos e vidro, enfim, tudo que havia no lugar foi utilizado como elemento sonoro.

            Dando enceramento àquele primeiro encontro com os usuários, finalizei com um exercício de percepção rítmica utilizando um instrumento origem da cultura popular e com forte expressão na cultura mineira, o congado. Usei um patangome improvisado feito de lata de biscoito e realizei um ritmo que cada usuário teria que repetir. Alguns conseguiram fazer igual e com precisão e outros não conseguiram e faziam de forma desritmada e desarticulada. Por fim, percebi uma lata de tinta no canto da sala e pedi para eles fazerem um som qualquer com a lata e todos participaram, fizeram seu ritmo pessoal, personalíssimo.

            Foi super positivo, saí feliz! Sinto que vai dar batucada nessa história.

Outubro de 2001

Às 8h40 comecei a minha primeira oficina de percussão para os usuários do Centro de Convivência Venda Nova. Os usuários estavam me esperando com muita expectativa, confesso que eu também estava ansioso para saber como seria a reação deles e entender a concepção da oficina, o método utilizado, a forma como enxergavam e percebiam a música…

            Dei início com o trabalho de corpo fazendo com que eles se expressassem de forma livre e espontânea, procurando promover a interação do grupo e perceber o desempenho criativo com seus corpos, tentando fazer com que cada indivíduo tomasse consciência do seu ritmo corporal. Dessa forma, a partir dali eu daria sequência a uma longa pesquisa de ritmo e sonoridades; em poucos minutos de oficina percebi que estavam todos envolvidos, não houve nenhuma resistência ou censura, foi uma profunda aceitação e entrega. Realizaram as dinâmicas com vontade, bastante humor e tranquilidade, foi uma experiência super bacana e satisfatória. As experiências musicais foram evoluindo.

         Passei para o segundo módulo do cronograma quando percebi que todos estavam integrados e haviam relaxado. Comecei a trabalhar com a percepção auditiva e a concentração, peguei um aparelho de som e pus uma fita cassete de um percussionista paraibano, Fernando Falcão. O disco chama-se “Memória das Águas”, e realizei uma dinâmica de compreensão auditiva e rítmica. Os usuários teriam que observar um determinado trecho de uma música e perceber quantas palmas existiam naquela parte, teriam que acompanhar repetindo do mesmo jeito aquela linha rítmica contida na música. Alguns perceberam, logo depois quase todo grupo estava tocando junto, acompanhando a música que tocava e harmonizava a todos. Esse exercício foi maravilhoso e divertido, com todos sorrindo e envolvidos com aquela música que eles desconheciam; em seguida, realizei alguns exercícios corporais e dinâmicas de voz. Percebia que todos estavam menos tensos e mais confiantes e já me olhavam com menos temores, seus olhos refletiam isso.

            Posteriormente, passei para outro momento, confesso que eu tinha muita expectativa nessa parte que era a utilização dos instrumentos musicais. Os usuários estavam eufóricos com a perspectiva de tocarem instrumentos, creio que ninguém ali presente tinha intimidade com instrumentos musicais. Dei para cada um instrumento de percussão e uma célula rítmica e eles foram se envolvendo com a energia do ritmo, desenvolviam o ritmo não tão claro, porém, percebia que alguns se destacavam e tinham habilidades, enquanto outros demostravam algumas dificuldades. No entanto, procuravam com esforço ter um melhor desempenho com graça e concentração. Depois que o grupo estava bastante integrado, realizei outra dinâmica mais provocativa. Eles saíram pelo Centro de Convivência tocando tudo que encontrassem pela frente e utilizando sons vocais na medida que executassem qualquer som, foi muito divertido e caótico: puxavam cadeiras, batucavam nas paredes de madeiras, gritavam, percutiam com os pés no chão, batiam palmas, assobiavam, tiravam sons em jornais, mesa, copos de plásticos e vidro, enfim, tudo que havia no lugar foi utilizado como elemento sonoro.

            Dando enceramento àquele primeiro encontro com os usuários, finalizei com um exercício de percepção rítmica utilizando um instrumento origem da cultura popular e com forte expressão na cultura mineira, o congado. Usei um patangome improvisado feito de lata de biscoito e realizei um ritmo que cada usuário teria que repetir. Alguns conseguiram fazer igual e com precisão e outros não conseguiram e faziam de forma desritmada e desarticulada. Por fim, percebi uma lata de tinta no canto da sala e pedi para eles fazerem um som qualquer com a lata e todos participaram, fizeram seu ritmo pessoal, personalíssimo.

            Foi super positivo, saí feliz! Sinto que vai dar batucada nessa história.

Outubro de 2001

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